quarta-feira, 18 de julho de 2012

18 de Março




arrepios crocitam às alcovas do horror,
grotesca fizera-se, a risonha face das trevas
clamando pois, impiedosas, pelo assassínio d' alma
em angústia submersa, ao gelível negro mar de desespero,

abruptamente desperta, num espasmo horrorizada,
à mente fugitiva, e que no assíduo delírio fora afogada...
respirando discórdia, às lamúrias insanas, distorcendo a realidade,
à solitária misteriosa noite, lhe provendo uma estranha terna falsidade;

aterradores impulsos imperam, não os podendo controlar,
na aspereza à situação, se fazendo conjurar,
impedido à inércia, embebido à força, pelo fél do medo,
contemplando o insano tempo respirar... suspirar açoites...

figuram-se aos cantos, sombras, notados espantos,
pesadelos estes tais, tantos são... imitando os prantos...
lágrimas, licores se tornam,
à festa destes, vís assombros, que em taças as entornam...
levemente, assolam libidinosos as garras à pele do pescoço;

e uma sinistra valsa retumba do oculto semblante penumbroso,
do horizonte provinda, o enigmático negrume tenebroso...
jaz meu zelo, ao meu medo... grilhões se arrastam,
os ouço, não se afastam...
sussurros cansados... gritos de ódio inimagináveis;

repentinos intrusos riem-me, palhaços deformados,
terrorosas faces, que a porta destroçaram,
tamancos de espadas, pois bastardos usaram,
ao compassarem sob meus espirituais restos, tombados...
fronte o espelho, sangue e lágrimas se esvaem,
confabulo mil prognósticos deste eu contemplado,
cuja interna e brutal besta, a carne rompeu... gritado,
legara o estilhaçar por meus demônios quais, não mais caem!

desolados campos percursados inebriam,
névoas em ofuscados mosaicos, o tempo todo os recriam...
vagar de encontro ao hediondo torpor, a mim perante,
mergulhar no terror mortal, doce e audaz farsante,
detrás tal face, o nefasto sacrilégio escondendo...
torturam-me os internos partidos cacos... e assim sendo,
eis tal noite insã, meu amargo ópio do pesadelo imponderável,
o deparar... com esse macabro sorriso da atroz escuridão infindável.





Numa listagem de todos os poemas mais macabros que pude eu conceber até então, eu acredito que este deva ser o segundo mais sinistro de todos.
Não é, inicialmente, um poema gótico apelativo, como os que encontramos em muitos lugares, falando de morte, e morte e loucura, depressão, tristeza ou seja lá o quê, sem dar a cada ínfima palavra, o seu devido valor poético. Na verdade, essa poesia foi concebida com muita dor, amargura, ódio, e principalmente, o sentimento que eu acredito ser o mais terrível e inebriante de todos... O RANCOR!!!! Numa noite de insônia, e particularmente, um tanto alcoólica, onde sequer eu me dispus a estabelecer quaisquer métricas, divisões silábicas, ou seja o que mais... eu lembro de ter pressentido muitas energias nefastas ao meu redor, quando o fiz, e creio de certa forma, ter em parte sido de uma autoria realmente além de mim - não que eu leve isso muito a sério. o título, cá pra nós, completamente misterioso, faz jus ao dia em que se havia alguma esperança na humanidade, em tentar eu, poder crer em alguma sinceridade mundana que não a minha, de crer no amor, que eu sempre detestei que o proferissem em vão, ou no ideal, e aliás, conseguir outrossim confiar em seu próprio sangue, morreram todos! esmagados por uma enxurrada de podridão e transtornos morais e espirituais. Não só isso, esse poema retrata a extremidade que pude eu chegar, até as impressões mais abstratas e assustadoras da minha mente até àquela época. Pode não ter sido um poema que gerou muitos comentários, elogios, que merda for, tampouco agradou aos idiotas acostumados com literatura "água com açúcar", mas definitivamente, para o autor, que é o que mais tem propriedade pra falar de uma obra sua... esse poema é fantástico e arrebatador dos maiores suspiros e os mais terríveis arrepios.




Lobisomem






desperto rompente uivo,
silêncio molestado,
prata ruivo,
à lua, pelagem ouriçada,
um tendão mais,
rompido,
mordido,
um bom cristão alcançado...

...que tornado à tortura,
temente tivera,
sua carne abatida
às garras duma fera,
impiedosa inclemente,
de repente
em que dera,
um passo a mais à redoma
de sombra
e horror!

ensanguentado focinho,
mordaz maldição,
rasgado é o linho
da roupa,
perante
sua mutação,
um errante diabo,
encarnado num cão.

ligeiro, mortal,
face à sede do mal,
a gritar
insanamente,
a contemplar-se
irracional,
farejando ferozmente,
sua presa ao bréu total.

seja humano, seja ovelha,
no pecado, ou retidão,
enriquecido,
endividado,
de saber, não faz tal menor questão...
badala, da igreja, o sino,
um bradar lupino,
jovem noite ainda toma, à sua excomunhão.

caçadores desimados,
manualmente mutilados,
seu batismo, o fez em sangue,
forjado
em ódio e fúria,
provindo de tanta injuria,
afastado;
à cidade volve, em vingança,
embrutecido enfurecido,
à sua diversão, como criança...


Cara, inicialmente essa é a segunda parte, duma série de poemas conceituais meus abordando o tema dos lobisomens e dos licantropos, a terceira e ultima ainda não escrevi mas logo creio que terei disposição pra fazer a coisa mais assustadora e mais foda que o mundo da poesia já teve... sinceramente, eu não ligo aos que torcem o nariz pra poemas assim como os meus, sem sentimento tipicamente humano, e abordando UM TEMA, algo específico como a lenda dos lobisomens, que de certa forma, existe em todo o mundo com infindáveis peculiaridades... essa versão em especial, é a minha maneira de narrar a lenda, de encarnar e atribuir a tudo, meu próprio estilo. Na real, nenhum poema de amor seria tão legal quanto, e tampouco tão expressivo como algo a respeito disso, e também, se me conviesse, conseguiriam atingir a mesma profundidade que pode alcançar esse tipo de poesia, e é, aliás, o que vai ser visto no terceiro poema.